quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

José Craveirinha: Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

2 comentários:

  1. TEXTO SIMP0LESMENTE MARAVILHOSO!!!
    O sujeito lírico se metaforiza de carvão para ganhar e dar a voz aos irmãos negros. Trata-se de um texto engajado, cuja tônica é denunciar os males da velha África colonial.
    Estou certa?
    Generosa Souto - Unimontes e Funorte(Montes Claros/MG)

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  2. Olá. Boa noite. Só vi este comentário agora, rs. Concordo contigo sim, acredito ser uma das possíveis leituras... Césaire em "Discurso sobre o colonialismo" e tbem Pepetela em "Mayombe" já traziam este discurso, sobre o colonialismo e a possibilidade do pós, vejo este poema como uma luta pós-colonialista, que vcs acham?
    Abraços!
    Isabel.

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