terça-feira, 18 de outubro de 2011

Apesar das acontecências do banzo – Conceição Evaristo

Apesar das acontecências do banzo
há de nos restar a crença
na precisão de viver
e a sapiente leitura
das entre-falhas da linha-vida

Apesar de...
uma fé há de nos afiançar
de que, mesmo estando nós
entre rochas, não haverá pedra
a nos entupir o caminho.

Das acontecências do banzo
a pesar sobre nós,
há de nos aprumar a coragem.
Murros em ponta de faca (valem)
afiam os nossos desejos
neutralizando o corte da lâmina

Das acontecências do banzo
brotará em nós o abraço à vida
e seguiremos nossas rotas
de sal e mel
por entre salmos, Axé e aleluias.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A presença e voz de Conceição Evaristo na Uneb, Campus II, Alagoinhas

Nos dias dezoito e dezenove de agosto do ano de dois mil e onze a cidade de Alagoinhas foi agraciada com a presença da escritora e intelectual negra Conceição Evaristo. A razão da vinda de Conceição se deu por vontade e força política de alinhar discussões de militância e culturas negras aproveitando a oportunidade da minha defesa de mestrado intitulada, “Transtextualidade em poesias negras diaspóricas: usos e sentidos na educação multicultural”, tendo como orientador prof. Murilo da Costa.

A palestra de Conceição versou acerca das questões raciais na sociedade brasileira, principalmente tomando como base exemplos na literatura e história. Todo o momento de sua fala marca seu lugar de mulher escritora e negra. Ela repensa a história ao questionar a hegemonia discursiva e social atribuída a movimentos como os inconfidentes e abolicionistas brancos, já que movimentos resistentes como os quilombolas, com exceção dos Palmares, ainda são pouco conhecidos por grande parte das pessoas.




Alinhada com a fala, afirma para ela ser a escrita uma prática de insubordinação que possibilita a fuga para o sonho e a inserção para modificação. Conceição também afirma que o silenciamento da mulher negra na literatura é um “não dito que diz”, já que o “silêncio tece vozes na história”, assim como a supervalorização de determinados fatos, em detrimento do apagamento de outros. Também ela nos provoca questionando o que a "ausência da presença" da mulher negra na história e literatura traz como consequência senão a negação da representatividade histórica e literária da matriz africana na sociedade?

Assim, frisa que a poesia negra é combativa e prisma pela permanente reflexão da história oficial brasileira que minimiza e/ou invisibiliza as condições de vida e produção de milhares de cidadãos negros e afro-brasileiros, cabendo, portanto as vozes negras atrelada a demais vozes resistentes denuncia “o que os livros escondem,/ (e) as palavras ditas libertam. E (assim) não há quem ponha/ um ponto final na história", consoante versos de Conceição contidos na obra, “Poemas da recordação e outros movimentos”.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Lembrando o dia da mulher

Ressurgir das cinzas - Esmeralda Ribeiro

Sou forte, sou guerreira,
tenho nas veias sangue de ancestrais.
Levo a vida num ritmo de poema-canção,
mesmo que haja versos assimétricos,
mesmo que rabisquem, às vezes,
a poesia do meu ser,
mesmo assim, tenho este mantra em meu coração:
‘nunca me verás caído ao chão’
(...)
Sou guerreira como Luiza Mahin,
Sou inteligente como Lélia Gonzáles,
Sou entusiasta como Carolina Maria de Jesus,
Sou contemporânea como Firmina dos Reis
Sou herança de tantas outras ancestrais.
E, com isso, despertem ciúmes daqui e de lá,
mesmo com seus falsos poderes tentem me aniquilar,
mesmo que aos pés de Ogum coloquem espada da injustiça
mesmo assim tenho este mantra em meu coração:
“Nunca me verás caída ao chão.”

(Ribeiro, Esmeralda 2004: 63)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Samba-enredo para Solano Trindade

"Quilombo vem,
com a singeleza de um maracatu,
cheiroso como um lote de cajus,
delicioso feito um mungunzá.
Vem exaltar,
render tributo ao quilombola pioneiro,
gênio do pensamento afro-brasileiro,
filho dileto de Oxalá,
que fez soar, no tambor dos oprimidos,
esses valores esquecidos:
negritude e liberdade!
Poeta negro,
pintor das negras aquarelas,
cantor de páginas tão belas:
a bênção, Solano Trindade!
(No Recife!)
Recife, das velhas guerras de libertação!
No ano dos 20 anos da Abolição
nascia este gigante das idéias
que o Rio e a Paulicéia
consagrariam.
Neto de negra que lutou
na Revolta dos Malês,
igual a couro de tambor
quanto mais "quente" mais tocou,
quanto mais velho mais zoada fez.
Por isso, agora,
que o poeta está dormindo,
sonhando com um dia lindo
que certamente vai raiar (raiar)
Quilombo vem,
com a singeleza de um maracatu,
cheiroso como um lote de cajus,
o velho Solano homenagear”.



LOPES, Nei. Samba-enredo em homenagem a Solano Trindade. Disponível em: www.neilopes.blogger.com.br/ 2008_07_01_archive.html. Acessado em: 05 fev 2011.